A PESQUISA DE CAMPO


O trabalho de pesquisa aqui apresentado é parte integrante da conclusão do Curso de Gestão de Projetos Culturais e Organização de Eventos oferecido no âmbito de pós-graduação latu sensu pela Universidade de São Paulo, ECA - Escola de Comunicação e Artes e CELACC, Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação. Por meio da filosofia da práxis, metodologia estimulada pelo curso para estudo da cultura, este trabalho trata da realidade da cultura subalterna dos povos que são originários destas terras, Índios Terêna, que se encontram fixados na Reserva Indígena de Araribá, localizada no Município de Avaí, Centro Oeste Paulista. A pesquisa de campo e bibliográfica buscou reconhecer seu processo histórico; a intensa re-significação de sua identidade; a produção cultural contemporânea e as circunstâncias em que esta produção possibilite o empoderamento do grupo, servindo assim como base para elaboração de um Artigo Científico.

A pesquisa de campo realizada como subsídio para elaboração do artigo “Re-significação da Identidade cultural dos Terêna de Ekeruá: uma abordagem da produção cultural subalterna”, se mostrou como algo de muita complexidade do ponto de vista do processo de execução. Muitos fatores somatizaram para instituir tal situação, como por exemplo: a distância física da aldeia em relação ao pesquisador; a comunicação com os indígenas mais velhos em virtude da língua e da linguagem; a necessidade de aprovação por parte da FUNAI para entrar e pesquisar na aldeia; a necessidade de convencimento da governança indígena local quanto aos objetivos do trabalho, a que ele se destinaria, e de como seu povo seria retratado no resultado final; aprovação da governança para realização das entrevistas, com registro de áudio e vídeo; a disponibilidade emocional dos entrevistados em contar parte de suas vidas; a instituição de uma relação de confiança e de amizade entre os indígenas envolvidos na pesquisa para que pudessem expressar sua realidade e não uma situação inventada; a resistência dos órgãos tuteladores dos indígenas em fornecer dados sobre, saúde, educação, distribuição de recursos e da política interna entre estes e os indígenas, além da tentativa constante do pesquisador em desmistificar perante aos entrevistados, que não seriam mais uma vez objeto de pesquisa acadêmica, pura e simplesmente, sem resultados e retorno de alguma forma para o grupo. Mesmo com as dificuldades, mas em virtude da grandiosidade, beleza e carência de seu objeto de estudo, o pesquisador transcendeu a relação acadêmica exclusivamente, construiu uma situação intima de solidariedade, respeito e comprometimento, que se tornou mutua, provocando varias relaçõe de amizades e de uma forte parceria para elaboração e execução de projetos locais.


Diante da complexidade do tema; das relações que foram necessárias estabelecer para que fosse possível retratar de forma conceitual e embasada o objeto da pesquisa; do grande volume de informações e dados levantados; e principalmente para que o leitor pudesse construir um entendimento global da situação histórica cultural dos Terêna, de acordo com as idéias propostas pelo pesquisador, é que foi estabelecido um consenso com a professora orientadora do trabalho, em extrapolar a extensão física do Artigo, conforme orientações do Manual do Celacc. Assim o pesquisador solicita com tamanha humildade o entendimento dos senhores(as) professores(as) quanto a este fato.

Desenvolvimento

O envolvimento do pesquisador com o tema se deu na ocasião da realização do I Encontro do Circuito Turístico Caminhos do Centro Oeste Paulista, realizado na cidade de Agudos SP, outubro de 2008. Este projeto trata de uma ação articuladora dos municípios de Agudos, Arealva, Avaí, Bauru, Duartina, Iacanga, Lençóis Paulista, Macatuba, Pederneiras e Piratininga, na busca pela viabilização e organização de diversas ações de fomento as potencialidades turísticas da região e conta com a orientação técnica do Sebrae. O município de Avaí onde esta localizada a Reserva Indígena de Araribá tem como participante do projeto, a aldeia de Ekeruá que vem se preparando para organizar o receptivo turístico.

Neste I Encontro os indígenas de Ekeruá apresentaram a idéia de criação do “Centro de Cultura Terêna Kipaê, que consiste em ações de formação e difusão no âmbito da cultura material e imaterial. A aldeia de Ekeruá construída diferentemente das características tradicionais dos Terêna tem provocado um conflito simbólico aos não indígenas que a conhecem, como também um distanciamento dos índios mais jovem de suas tradições seculares. Assim, Kipaê seria uma reprodução fiel de uma aldeia originária a ser instalada em Ekeruá, contendo moradia, casa da farinha, casa da reza, quiosque para apresentações e desenvolvimento das atividades diversas, trilha na mata, espaço para exposição e comercialização da produção cultural, ou seja, um ambiente para receber visitantes e turistas, como também possibilitar a comercialização da produção artesanal. Além de se tornar um núcleo de formação artística tradicional dos índios da aldeia, por meio de cursos, oficinas e diversas outras técnicas de transmissão da cultura Terêna.

Conhecendo a proposta de criação do Centro de Cultura Kipaê, reconhecendo sua importância na re-significação da identidade Terêna, bem como as dificuldades em viabilizar metodologicamente o projeto por parte dos indígenas, o pesquisador passou a discutir com a governança local, sua participação como colaborador e facilitador na viabilização desse projeto. Importante ressaltar que a idéia e iniciativa do projeto é exclusiva do grupo, sendo que a participação profissional do pesquisador se dará no auxilio técnico para viabilização das propostas indígenas. Dentre as diversas iniciativas para viabilização do projeto, como resultado desta parceria, houve recentemente a aprovação e liberação de recursos por parte do Governo Federal para construção de um grande quiosque de eucalipto e sapé, e também a organização dos produtores culturais para criação de uma entidade de personalidade jurídica com objetivo de legitimar as ações do Centro de Cultura Kipaê e receber recursos por meios de diferentes editais públicos.


Foto 1: Cerimônia do dia do Índio em Ekeruá. Vice Cacique Júlio, Sérgio Losnak e Jovem Terêna. Ao fundo professor Alício Lipú  

Foto 2: Exposição dos trabalhos dos alunos da Escola de Ekeruá - abril de 2010