Isolados da maior concentração de seu grupo étnico no Brasil e distantes de suas terras de origem, os Terêna de Ekeruá se tornaram um testemunho da sobrevivência e resistência no interior do Estado de São Paulo. Tutelados pelo Estado e segregados pela sociedade, a exemplo de seus antepassados, continuam sua luta pela manutenção de sua essência tradicional de vida, de sua cultura e de suas tradições. O processo de interferência inter-ética se intensificou após o contato com o branco, mas verifica-se que estas experiências de miscigenação e assimilação da cultura já se mostravam presentes com outras etnias indígenas, sendo bem aceitas pelos diferentes grupos Terêna, porém essas influências eram menos impactantes do que aquelas causadas pelas sociedades não indígenas.
Com a migração para a Reserva de Araribá, os Terêna iniciam um novo e significativo processo de desterritorialização, provocando uma instabilidade étnica e cultural no percurso de reconstrução de sua identidade. Nota-se que após 70 anos da chegada dos Terêna em Araribá, com a criação da aldeia de Ekeruá, surge o sentimento e ações concretas de construção de novas perspectivas e oportunidades, tanto de apropriação do espaço regional, como no sentido de valorização coletiva de suas tradições culturais.
As diferentes atividades coletivas introduzidas no cotidiano da nova aldeia, em virtude da condução da gestão política da governança local, têm estimulado o entendimento dos moradores a respeito de suas diferenças étnicas e de como utilizar esta particularidade como forma de potencializar as ações produtivas do grupo e dos indivíduos.
A produção cultural de Ekeruá, fomentada de forma crescente tem provocado um olhar mais particular de si próprio, orientados pelos professores indígenas da escola local, estão canalizando ações na viabilização de um Centro de Cultura Indígena, na própria aldeia, que leva o nome de Ekipaê. Na língua Terêna, Ekipaê significa Ema, ave com grande presença em sua mitologia. Este projeto idealizado pela própria comunidade indígena, se tornará um espaço de formação para a população local e de difusão cultural dos Terêna para os visitantes da aldeia. Este complexo cultural irá ser formado por estruturas físicas típicas, como a casa da reza, da farinha, moradia, trilhas na mata, ou seja, uma representação originária do modo de vida tradicional dos Terêna, algo que atualmente não pode ser encontrado na aldeia.
O Centro de Cultura Kipaê se estabelece pela relação direta dos índios, principalmente dos jovens e daqueles que praticam atividades culturais, com as particularidades da vivência do fazer e do criar da tradicional cultura Terêna. Assim tende a se transformar em um local receptivo de turistas, criando um fluxo de visitas para divulgação de sua cultura e do incremento do comércio de sua produção.
Atualmente, quando visitantes adentram a aldeia, principalmente jovens de idade escolar, tendem a reconhecer uma realidade indígena muito próxima a da deles, pois é comum ver carros, casas de alvenaria, campo de futebol, indivíduos com roupas de marcas conhecidas, ou seja, a idéia simbólica que se tem dos indígenas é muito diferente daquela encontrada na aldeia.
Então o que se esta propondo em Ekeruá é oferecer a possibilidade de conhecer a realidade indígena atual, como também sua dimensão originária e tradicional, sem deixar a dimensão de contextualização do conflito existente entre o originário e o contemporâneo real, para que se provoque no individuo externo, a realidade indígena, o entendimento sobre o processo de re-significação cultural os quais foram submetidos e consequentemente provocar o reconhecimento de suas diferenças e da dívida histórica existente pára com os originários destas terras.
Neste contexto de reconstrução de identidade e da perspectiva de transformação de forma mais intensa da produção cultural em produto, a proposta local deve se colocar em profunda reflexão das perspectivas futuras na qual estará sujeita, surgindo a necessidade de estreitamento das relações com as produções culturais originárias, das possibilidades de viabilização de novos mecanismos de pesquisa que estabeleça relação direta com o imaginário da população local, de forma a entender as assimilações que podem interferir negativamente em sua produção cultural atual. Buscar mecanismos de acesso público a recursos para viabilização de seus projetos, por meio dos seus recursos humanos existentes, estabelecendo parcerias com agentes e entidades culturais na busca pelo fomento local. Assim muitos questionamentos podem porvir desta situação dialética e complexa, como por exemplo.
Como produzir artesanato em escala comercial, provendo as necessidades do mercado sem distanciar ou perder as técnicas originárias? Como assimilar novas técnicas e contextualizando com a realidade imediata e presente? Como manter a prática bilíngüe e principalmente o uso cotidiano da língua Terêna na aldeia? Sustentar a manutenção de um sistema educacional bilíngüe de qualidade, a exemplo de escolas hegemônicas com a mesma prática, possibilitará a emancipação étnica do povo Terêna? De fato, as danças praticadas hoje refletem as atividades culturais do povo Terêna antes do contato com os brancos, ou foi uma forma assimilada para reproduzir determinadas relações inter-tribais em sua fase originária? Quais são as peças artesanais utilitárias ou de adorno que sobreviveu às interferências e adaptações das diferentes gerações? Como capacitar os indígenas para elaboração de projetos para captação de recursos e editais púbicos.
Muito ainda resta a conhecer sobre o grupo étnico Terêna, mas o que se constata nesta aproximação pouco estreita proporcionada por esta pesquisa de campo é a grande relevância pela busca constante da integridade e da conquista de um lugar ao sol desta sociedade frágil e ao mesmo tempo poderosa por meio de suas particularidades culturais.
Fotos: 1, 2 e 3: Dança tradicional Terêna - Dança da Chuva, praticada pelas mulheres. Ekeruá, abril de 2009
Com a migração para a Reserva de Araribá, os Terêna iniciam um novo e significativo processo de desterritorialização, provocando uma instabilidade étnica e cultural no percurso de reconstrução de sua identidade. Nota-se que após 70 anos da chegada dos Terêna em Araribá, com a criação da aldeia de Ekeruá, surge o sentimento e ações concretas de construção de novas perspectivas e oportunidades, tanto de apropriação do espaço regional, como no sentido de valorização coletiva de suas tradições culturais.
As diferentes atividades coletivas introduzidas no cotidiano da nova aldeia, em virtude da condução da gestão política da governança local, têm estimulado o entendimento dos moradores a respeito de suas diferenças étnicas e de como utilizar esta particularidade como forma de potencializar as ações produtivas do grupo e dos indivíduos.
A produção cultural de Ekeruá, fomentada de forma crescente tem provocado um olhar mais particular de si próprio, orientados pelos professores indígenas da escola local, estão canalizando ações na viabilização de um Centro de Cultura Indígena, na própria aldeia, que leva o nome de Ekipaê. Na língua Terêna, Ekipaê significa Ema, ave com grande presença em sua mitologia. Este projeto idealizado pela própria comunidade indígena, se tornará um espaço de formação para a população local e de difusão cultural dos Terêna para os visitantes da aldeia. Este complexo cultural irá ser formado por estruturas físicas típicas, como a casa da reza, da farinha, moradia, trilhas na mata, ou seja, uma representação originária do modo de vida tradicional dos Terêna, algo que atualmente não pode ser encontrado na aldeia.
O Centro de Cultura Kipaê se estabelece pela relação direta dos índios, principalmente dos jovens e daqueles que praticam atividades culturais, com as particularidades da vivência do fazer e do criar da tradicional cultura Terêna. Assim tende a se transformar em um local receptivo de turistas, criando um fluxo de visitas para divulgação de sua cultura e do incremento do comércio de sua produção.
Atualmente, quando visitantes adentram a aldeia, principalmente jovens de idade escolar, tendem a reconhecer uma realidade indígena muito próxima a da deles, pois é comum ver carros, casas de alvenaria, campo de futebol, indivíduos com roupas de marcas conhecidas, ou seja, a idéia simbólica que se tem dos indígenas é muito diferente daquela encontrada na aldeia.
Então o que se esta propondo em Ekeruá é oferecer a possibilidade de conhecer a realidade indígena atual, como também sua dimensão originária e tradicional, sem deixar a dimensão de contextualização do conflito existente entre o originário e o contemporâneo real, para que se provoque no individuo externo, a realidade indígena, o entendimento sobre o processo de re-significação cultural os quais foram submetidos e consequentemente provocar o reconhecimento de suas diferenças e da dívida histórica existente pára com os originários destas terras.
Neste contexto de reconstrução de identidade e da perspectiva de transformação de forma mais intensa da produção cultural em produto, a proposta local deve se colocar em profunda reflexão das perspectivas futuras na qual estará sujeita, surgindo a necessidade de estreitamento das relações com as produções culturais originárias, das possibilidades de viabilização de novos mecanismos de pesquisa que estabeleça relação direta com o imaginário da população local, de forma a entender as assimilações que podem interferir negativamente em sua produção cultural atual. Buscar mecanismos de acesso público a recursos para viabilização de seus projetos, por meio dos seus recursos humanos existentes, estabelecendo parcerias com agentes e entidades culturais na busca pelo fomento local. Assim muitos questionamentos podem porvir desta situação dialética e complexa, como por exemplo.
Como produzir artesanato em escala comercial, provendo as necessidades do mercado sem distanciar ou perder as técnicas originárias? Como assimilar novas técnicas e contextualizando com a realidade imediata e presente? Como manter a prática bilíngüe e principalmente o uso cotidiano da língua Terêna na aldeia? Sustentar a manutenção de um sistema educacional bilíngüe de qualidade, a exemplo de escolas hegemônicas com a mesma prática, possibilitará a emancipação étnica do povo Terêna? De fato, as danças praticadas hoje refletem as atividades culturais do povo Terêna antes do contato com os brancos, ou foi uma forma assimilada para reproduzir determinadas relações inter-tribais em sua fase originária? Quais são as peças artesanais utilitárias ou de adorno que sobreviveu às interferências e adaptações das diferentes gerações? Como capacitar os indígenas para elaboração de projetos para captação de recursos e editais púbicos.
Muito ainda resta a conhecer sobre o grupo étnico Terêna, mas o que se constata nesta aproximação pouco estreita proporcionada por esta pesquisa de campo é a grande relevância pela busca constante da integridade e da conquista de um lugar ao sol desta sociedade frágil e ao mesmo tempo poderosa por meio de suas particularidades culturais.
Fotos: 1, 2 e 3: Dança tradicional Terêna - Dança da Chuva, praticada pelas mulheres. Ekeruá, abril de 2009
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